quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

Secult firma parceria


Por João Eça (Jornal A Tarde)

Morador do bairro de Engomadeira e estudante de música da Universidade Federal da Bahia (Ufba), Ismael Santos de Souza, 25anos, já tocou em várias bandas de axé e pagode. Mas foi como trombonista dos Núcleos Estaduais de Orquestras Juvenis e Infantis da Bahia (NEOJIBA) que ele realmente se encontrou, tendo a oportunidade de estudar e aprender música de concerto.

Ontem, Ismael foi uma das pessoas que estavam no Teatro do Iceia (Instituto Central de Educação Isaías Alves), no bairro do Barbalho, para acompanhar o titular da Secretaria de Cultura do Estado da Bahia (Secult-BA), Márcio Meirelles, anunciar que a gestão do NEOJIBA será feita a partir de agora por um processo de parceria entre o governo e a sociedade civil conhecido como publicização, fato inédito no setor cultural do Estado.

Uma das metas do acordo é a reforma do Teatro do Iceia, que custará cerca de R$ 15 milhões. Em 2010, o teatro será o local de ensaios dos núcleos, que antes ocorriam no Teatro Castro Alves (TCA).

“A publicização facilita a captação de recursos e diminui a burocracia. Queríamos, de todo jeito, institucionalizar o NEOJIBA. Temos experiências de sucesso deste modelo de parceria no Museu da Língua Portuguesa, em São Paulo, e no Centro Dragão do Mar de Arte e Cultura, no Ceará, que foi o pioneiro no País”, explicou o secretário.

A administração do núcleo será feita pela Associação Amigos das Orquestras Juvenis e Infantis da Bahia e do NEOJIBA (AOJIN), que foi escolhida e habilitada pelo governo como uma organização social.

Com direção do pianista, maestro e idealizador do NEOJIBA, Ricardo Castro, a AOJIN receberá da Secult uma verba anual de R$ 2,4 milhões e terá de complementar o orçamento buscando recursos com a iniciativa privada.

A associação terá de cumprir uma série de metas, a exemplo da anunciada reforma do teatro. Criado em 2007, o NEOJIBA beneficia, atualmente, 135 jovens por meio do ensino musical.

segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

Concerto de Natal reúne J2J, OCA e Osba no TCA

A J2J fica de pé, retribuindo os aplausos calorosos da plateia que lotou o TCA

As duas primeiras orquestras formadas pelo NEOJIBA - a Orquestra Sinfônica Juvenil 2 de Julho e a Orquestra Castro Alves - e a Orquestra Sinfônica da Bahia (Osba) tocaram juntas no último domingo (13), em Concerto Especial de Natal realizado numa lotada Sala Principal do TCA, que encerrou a temporada 2009. O repertório foi formado por seis obras de diferentes compositores, entre eles, Tchaikovsky e Brahms.

A Orquestra Castro Alves (OCA), que, pela primeira vez, se apresentou na Sala Principal do TCA, abriu a noite com as peças "Dança Húngara nº 5", de Brahms, "Suíte Carmen", de Georges Bizet, "Tema de James Bond", de Monty Norman, e "Chamambo", de Manuel Artés. A orquestra foi regida pelo jovem maestro Yuri Azevedo.

A Orquestra 2 de Julho (J2J) apresentaou a "Sinfonia nº 9 em Mi menor, op. 95 (Do Novo Mundo)", de Antonín Dvorák, regida pelo maestro Ricardo Castro. Também sob a regência dele, a Osba encerrou o concerto com "Quebra Nozes, suíte nº 1, op. 71A", uma das mais conhecidas obras de Tchaikovsky, contando com a presença de vários músicos da J2J.

sexta-feira, 11 de dezembro de 2009

J2J se apresenta no Encontro Anual da EMBASA

Os sopros da J2J deram um show no concerto no Othon Palace


Na última quinta-feira, 10 de dezembro, a Orquestra Sinfônica Juvenil 2 de Julho (J2J) apresentou-se para funcionários e diretores da Empresa Baiana de Águas e Saneamento - EMBASA, no Hotel Othon Palace, em Ondina. Sob a regência de seu diretor-fundador, o pianista Ricardo Castro, os jovens abriram a apresentação com Os Toureadores da Suíte Carmem de Bizet, o Terceiro e o Quarto movimentos da Sinfonia n°9 “Novo Mundo” de Antonín Dvorák. Logo depois, adentraram o clima latino com o Danzón n°2 do argentino Arturo Marquez e terminaram com o baião improvisado da música Asa Branca de Luiz Gonzaga.

No evento, a EMBASA e seus parceiros contribuíram na campanha "Adote um Instrumento" do NEOJIBA, com a doação de dois instrumentos musicais. Além disso, anunciaram a parceria com o NEOJIBA para 2010, ajudando a promover apresentações da J2J por toda a Bahia, uma vez por mês, durante todo o ano.

domingo, 6 de dezembro de 2009

Mais músicos convidados em atividade no NEOJIBA

Michel Bellavance ao lado dos sopros da J2J e o Quarteto Arsen se apresentando


Em mais um dos intercâmbios entre NEOJIBA e FESNOJIV, esteve entre 25 de novembro e 1º de dezembro o Quarteto Arsen, formado pelo violinista Andre Rivas, a violista Marli Calderón, a violinista Fabíola Gamarra e o violoncelista Andrés Ruiz Sará. Eles coordenaram ensaios, deram aulas e fecharam a visita com uma emocionante apresentação no piso C do Teatro Castro Alves. Os jovens venezuelanos executaram o Quarteto Opus 19 nº 2, de Beethoven, e o primeiro movimiento da Bachiana nº 5 de Villa- Lobos.

Também esteve em Salvador, entre os dias 26/11 e 06/12, o grande flautista suíço-canadense Michel Bellavance. Ele ministrou master classes para os sopros da J2J, coordenou ensaios de naipe com as flautas, além de realizar aulas individuais e trabalhar com os pequenos músicos da OCA. Bellavance atua como solista nas principais orquestras do mundo, e também é professor no Conservatório de Música de Genebra e no Conservatório em Neuchatel e ministra regularmente master classes na América do Norte, Europa e América do Sul.

sexta-feira, 4 de dezembro de 2009

J2J comemora o centenário de Morro do Chapéu

O maestro Paulo Novais conduz a J2J em mais uma bela apresentação da orquestra

No último dia 03 de dezembro a Orquestra Sinfônica Juvenil 2 de Julho (J2J) saiu em mais uma viagem. Desta vez rumo ao noroeste da Bahia, na região da Chapada Diamantina, à pequena e bela cidade de Morro de Chapéu. Sob a batuta do maestro Paulo Novais, a apresentação foi parte das comemorações do centenário do município e uma celebração ao Coronel Dias Coelho, representante máximo do poder político local no inicio do século XX e o primeiro coronel negro da região.

Os presentes puderam apreciar a Dança Húngara nº5 de Brahms, a Fantasia para Trombone e Orquestra de Abdon Lyra, o 4° mov. da Sinfonia n° 9 “Novo Mundo” de Dvórak, Danzón n°2 de Marquez, o Malambo, da Suíte Estância de Ginastera, o baião do Batuque de Fernandez e o animadíssimo Tico-Tico no Fubá, de Abreu.

O concerto teve sabor especial para dois integrantes da orquestra, que são filhos de Morro do Chapéu. Indira Monteiro e Stephan Sanches, apaixonados pela sua terra, puderam pela primeira vez mostrar a seus conterrâneos todo o talento deles e dos colegas de orquestra. Stephan solou à frente da orquestra uma Fantasia para Trombone e Indira, o solo do Danzón nº2. "Foi muito bom ver a satisfação do público após o marcante concerto em minha cidade. Morro do Chapéu é muito rica em cultura e com certeza foi um dia inesquecível nesses 100 anos de sua existência. Ter apresentado o belíssimo trabalho que o NEOJIBA vem desenvolvendo nesses dois anos foi ótimo e a emoção de ter solado o Danzón, melhor ainda!", contou Indira.

terça-feira, 1 de dezembro de 2009

Divina Música à margem do Vesúvio

Por Rogério Menezes *

Afundava-me em nebulosas especulações na vã tentativa de explicar por que diabos passarinhos do sul da Bahia (já havia visto cena similar aparentemente inexplicável na Igreja de Nossa Senhora do Amparo, em Valença) andam trocando árvores frondosas da Mata Atlântica por altares e adros de igrejas aparentemente claustrofóbicas. Desarranjo ecológico irreversível? Fervor religioso súbito dessas maviosas aves, que estariam trocando o culto à natureza pelo culto aos santos criados e idolatrados por nós, humanos?

Mais nebulosas especulações: que diabos teria feito com que passarinhos do litoral sul da Bahia agora resolvam construir ninhos em cocurutos de santos, em depositários de hóstias e em topos de crucifixos? Que diabos teria feito com que passarinhos do litoral sul da Bahia agora tenham transformado cocurutos de santos em latrinas onde ejetam suas fezes malcheirosas?

A essa altura dessa insana e intrincada elucubração, quase esquecera o que me levara à bela e colossal Catedral de Ilhéus, às margens plácidas do jorgeamadiano Bar Vesúvio, na noite quente de 27 de novembro de 2009: estava ali para assistir à apresentação da Orquestra Juvenil Dois de Julho, também conhecida como Neojibá. (Ao contrário do que se poderá imaginar, não se trata de palavra em iorubá, ou idioma similar, de fácil identificação com aquela Bahia folclórica e dejá vu a que estamos acostumados a lidar – e sim eloquente sigla que significa exatamente: Núcleos Estaduais de Orquestras Juvenis e Infantis da Bahia. Na batuta dessa bem-vinda idéia o maestro Ricardo Castro, baiano de Vitória da Conquista, e atualmente celebridade top de linha na música erudita produzida na Europa e alhures).

Ainda ensimesmava-me em decifrar as motivações que levaram passarinhos de Valença e de Ilhéus a trocarem as delícias tropicais da Mata Atlântica pelo causticante calor das igrejas, quando avistei vários guapos rapazes e moças, entre 11 e 25 anos, que saíam de porta de sala localizada à direita do grande altar e que, cheios de entusiasmo e gáudio e alegria, dedilhavam seus instrumentos, esquentando os, digamos, tamborins para a récita que começaria a seguir.

Verdade que, vez em quando, ainda conseguia tirar os olhos desses entusiasmados rapazes e moças visivelmente apaixonados pelo que fazem (tocar alguns das pérolas mais preciosas da grande música produzida no planeta nos últimos séculos) e acompanhava os vôos rasantes dos passarinhos entre uma Santa-Rita-de-Cássia e um São-Sebastião; ou entre um São-Judas-Tadeu e um São-Jorge-da-Capadócia. Mas, aos poucos, fui esquecendo os passarinhos e as motivações que os levaram a trocar os encantos da Mata Atlântica pelos altares de igrejas do sul da Bahia – e fui me deixando levar pela música sublime que os rapazes e moças da Orquestra 2 de Julho começavam a tocar.

Antes de revelar o estado de sublime emoção em que Ricardo Castro e seus ungidos me deixaram nos sessenta minutos seguintes, devo dizer o quanto a música me é cara e o quanto a música tem de sublime e de divina (seja qual for o Deus que estiver ao alcance de cada um). Ao contrário da literatura, do teatro e do cinema, a música não precisa tradução simultânea para ser entendida por neozelandeses ou japoneses; tibetanos ou egípcios; brasileiros ou eslovenos. A bordo de uma peça clássica de Mozart ou Bach, a mesma emoção será sentida por gente de todas as etnias, credos e ideologias.

Resumo da ópera: se o mundo ainda tem alguma salvação essa salvação talvez possa de dar através da música. Se não, adeus batucada.

Não sei se os meninos e meninas da Orquestra 2 de Julho têm opinião similar – mas acabei crendo que sim. Se não como explicar o verdadeiro arrebatamento com que executaram os clássicos de Beethoven e Dvorak que vieram a seguir? Tocavam como se estivessem salvando não apenas a si mesmos, a família e a pátria, mas como se estivessem (e, de alguma forma, de fato estão) salvando a raça humana da falência e da extinção múltiplas e totais. Havia um se-deixar-possuir-pela-música-que-tocava (em síntese: uma paixão), que é artigo cada vez mais raro nos (cínicos) dias de hoje dia mundo afora. (Ai de nós!)

Enquanto um passarinho fazia vôo rasante a boreste da cabeleireira à Carlos Gomes do maestro Ricardo Castro e um certo violinista demonstrava no rosto um sentimento de prazer incontido que se transformava em sorriso edificante, afoguei-me em certa lembrança e em certo arrependimento, que talvez nunca consiga me livrar: tive a chance de virar músico (estudei piano entre os 7 e os 10 anos, por insistência de minha mãe) – e não quis abraçar essa chance de virar músico por insistência de minha mãe, e acabei virando jornalista, e acabei virando escritor, décadas-luz da transcendência que a música pode alcançar (ai de mim!).

Mas agora, leite derramado, possibilidade nenhuma de, aos 55 anos, aprender a tocar qualquer instrumento musical, e, consequentemente, de salvar o mundo da falência múltipla e total, só me resta aceitar com humildade e estoicismo o destino que a vida me legou: o de chorar de emoção estética e de gritar bravos em altos brados sempre que ouço récitas musicais como essa que os meninos da Orquestra 2 de Julho, sob a batuta do maestro Ricardo Castro, protagonizaram na noite de 27 de novembro de 2009 numa Catedral de Ilhéus loteada por passarinhos.

Obrigado, meninas e meninas – com meninas e meninos tocando assim, tão apaixonadamente, talvez ainda haja alguma esperança de que a raça humana algum dia possa se tornar viável – e que passarinhos não precisem abandonar mais matas atlânticas e se recolherem em igrejas aparentemente claustrofóbicas.

Amém.

* O escritor e jornalista Rogério Menezes viaja pelo interior baiano a convite da Secretaria de Cultura da Bahia. Este artigo foi retirado do blog da III Conferência Estadual de Cultura da Bahia.